Enquanto o procurado Doutor
Durval derretia em seu escritório, a uns oito quilômetros dali, pegando uma
estrada chamada de Rua Geral do Pagará, se encontrava lá a pequena Adelaide. Menina
magra de rosto arredondado, cabelos curtos com uma coloração meio loira e meio
ruivo. A pequena garota de aproximadamente 10 anos, vivia ali na isolada
comunidade do Pagará Grande com a sua famÃlia.
O
Pagará Grande, era como chamavam aquela terra sem dono, a localidade era
dividida nas divisas ou extremas como falavam os antigos, dos municÃpios de São
José (onde ficava o Hospital), São Pedro de Alcântara (onde ficava o presidio),
Santo Amaro da Imperatriz e Palhoça, estas duas últimas cidades eram as que os
moradores do Pagará Grande mais frequentavam, já que seus respectivos centros
eram os mais próximos do local.
As
famÃlias moradoras do Pagará Grande se espalhavam por toda a região das
extremas, com suas casas afastadas uma das outras devido a grande vastidão de
seus terrenos, os principais pontos de encontro eram a Igreja do Pagará, localizada
na rua que ligava a região com São Pedro, no Campo do velho Maca, localizado na
estrada que levava para Santo Amaro da Imperatriz e na pequena escolinha que
havia sido recém construÃda na estrada em direção a Palhoça.
É
no meio dessa região, que liga tantos lugares, mas que se mantem esquecida por
todos esses lugares, que Adelaide mora com a sua famÃlia, na casa de madeira, próxima
a um grande açude, ela vivia com sua mãe Dona Maria e seu pai Seu Joaquim.
Adelaide era a filha mais velha, Juca era o filho mais velho, depois deles
vieram, Nilza e Sebastião, que deviam ter cerca de 6 anos cada, depois do casal
de caçulos veio a jovem Laura, bebe ainda de peito era o centro da atenção de
Dona Maria e dais duas crianças mais jovens, restava para Juca ajudar seu pai
no engenho de Farinha e para Adelaide auxiliar nas demais atividades da casa.
Varrer,
arrumar as camas, lavar as roupas no tanque, pegar agua no riacho, tratar os
cachorros de caça do pai, ajudar a fazer comida, cuidar da horta e colher
quando fosse tempo. Eram tantas atividades que a jovem Adelaide volta e meia se
sentia mãe dos irmãozinhos, dava bronca, sentava o chinelo quando precisava e
volta e meia a noite eram o colo dela que procuravam quando estavam com medo da
trovada.
Em
mais uma tarde comum a menina voltava para sua casa com um cacho de banana que
ela havia apanhado próximo ao riacho, era um cacho grande mas a menina era
forte, braços rÃgidos e erguidos, o cacho vinha deitado em sua costa, a cabeça
baixa devido ao peso que o cacho fazia em sua cabeça permitia que ela apenas
observasse seus passos na estrada de chão, sua marcha se mantinha continua rumo
a sua casa, até que o barulho de mais passos, violão, tambor e cantoria a
chamaram atenção..
“Os devotos do Divino vão abrir sua morada
Pra bandeira do menino ser bem-vinda, ser louvada, ai, ai”
A
jovem arriou o cacho de banana no chão e olhou encantada a passeata que passava
em direção contraria a que ela estava indo, diversos devotos da bandeira do
divino estava passando por ali, cantando alegres e com fé as músicas
tradicionais daquela manifestação religiosa, estavam ali vários conhecidos da
região do Pagará Grande, inclusive o padre, enquanto todos passavam pelo
caminho da menina, uma senhora se aproximou dela, se ajoelhou e entregou para a
jovem um pedacinho de fita vermelha, é para o divino espirito santo te manter
de baixo da asa dele, disse a senhora, Adelaide olhou a fitinha vermelha em sua
mão, e fechou bem forte, tinha fé desde pequena naquela imagem, depois da
senhora se levantar e continuar o caminho da procissão, chegou a hora de um
rapaz alto parar na frente de Adelaide, ele segurava o mastro onde a imagem do
espirito santo estava, o mastro era enrolado por um manto vermelho, venha
menina, passe pelo manto e receba a benção do divino, orientou o rapaz
empolgado para Adelaide, ela assim o fez, e quando saiu do manto, pelo outro
lado do que ela havia entrado, olhou para trás e pode comtemplar todos os
devotos já caminhando longe estrada a fora, iriam continuar a procissão,
levando a bandeira do espirito santos para outras casas...
“Assim como os três reis magos que seguiram a estrela guia
A bandeira segue em frente atrás de melhores dias aÃ, aÃ. ”
Depois
de uma pausa para respirar, cacho de banana nas costas novamente e pé na
estrada, a jovem Adelaide, entrou por uma caminho a direita da rua que ela
estava e começou a adentrar as propriedades de seu pai e sua mãe, passou pela
porteira de madeira, atravessou o pasto, passou rente ao açude e finalmente
quando chegou na frente de sua casa, largou o cacho de banana no cesto próximo a
área de serviço, onde sua mãe tinha um fogão a lenha, a jovem estava suando,
pegou um pano próximo ao tanque cheio de água, secou o suor e lavou o rosto,
logo em seguida entrou em casa, sua mãe estava na cozinha sorrindo e fazendo
sopa para todos comerem logo mais à noite, a jovem Laura estava dormindo no
bercinho do lado, Sebastião e Nilza estavam na mesa ajudando a separar os bagos
de feijão.
- Onde está o pai e o Juca,
preciso de ajuda para pendurar o cacho de banana? Perguntou Adelaide, mexendo
na barriga de sua irmã Laura, fazendo o bebe abrir um sorrisão.
- Os dois estão ali na sala, seu
pai está separando uns sacos de farinha para entregar logo mais ao compadre
Marcos, ele disse que iria vir aqui logo depois da procissão.
Adelaide
saiu da cozinha por um pequeno corredor, passou pela porta do quartão de seus
pais e do quarto dela e dos irmãos, passou pela porta do banheiro e no final do
corredor avistou seu irmão sentado de olhos arregalados, ao caminhar mais um
pouco e chegar na sala, encontrou seu pai sentado em um banco virado para a
porta que dava acesso à rua, o mesmo observava um sujeito estranho, cabelos
escuros, pele queimada e castigada pelo sol, calças bem largas e cinzas, um
sapato preto gasto e uma camisa de botão branca.
- Com toda licença sinhô, teria um
copinho de água? Pediu o estranho na porta.
Adelaide observou seus olhos,
eram profundos como a lua, seu rosto rÃgido como um cachorro bravo, a barba começava
a aparecer em partes de seu rosto, trazia uma entonação de ferocidade, não era um sujeito
que transmitia segurança. A menina ficou com medo e voltou correndo para a
cozinha...
Continua.