Quando o Estranho bate à porta, o lampião se apaga - parte 2

junho 25, 2018



                Enquanto o procurado Doutor Durval derretia em seu escritório, a uns oito quilômetros dali, pegando uma estrada chamada de Rua Geral do Pagará, se encontrava lá a pequena Adelaide. Menina magra de rosto arredondado, cabelos curtos com uma coloração meio loira e meio ruivo. A pequena garota de aproximadamente 10 anos, vivia ali na isolada comunidade do Pagará Grande com a sua família.

                O Pagará Grande, era como chamavam aquela terra sem dono, a localidade era dividida nas divisas ou extremas como falavam os antigos, dos municípios de São José (onde ficava o Hospital), São Pedro de Alcântara (onde ficava o presidio), Santo Amaro da Imperatriz e Palhoça, estas duas últimas cidades eram as que os moradores do Pagará Grande mais frequentavam, já que seus respectivos centros eram os mais próximos do local.

                As famílias moradoras do Pagará Grande se espalhavam por toda a região das extremas, com suas casas afastadas uma das outras devido a grande vastidão de seus terrenos, os principais pontos de encontro eram a Igreja do Pagará, localizada na rua que ligava a região com São Pedro, no Campo do velho Maca, localizado na estrada que levava para Santo Amaro da Imperatriz e na pequena escolinha que havia sido recém construída na estrada em direção a Palhoça.

                É no meio dessa região, que liga tantos lugares, mas que se mantem esquecida por todos esses lugares, que Adelaide mora com a sua família, na casa de madeira, próxima a um grande açude, ela vivia com sua mãe Dona Maria e seu pai Seu Joaquim. Adelaide era a filha mais velha, Juca era o filho mais velho, depois deles vieram, Nilza e Sebastião, que deviam ter cerca de 6 anos cada, depois do casal de caçulos veio a jovem Laura, bebe ainda de peito era o centro da atenção de Dona Maria e dais duas crianças mais jovens, restava para Juca ajudar seu pai no engenho de Farinha e para Adelaide auxiliar nas demais atividades da casa.

                Varrer, arrumar as camas, lavar as roupas no tanque, pegar agua no riacho, tratar os cachorros de caça do pai, ajudar a fazer comida, cuidar da horta e colher quando fosse tempo. Eram tantas atividades que a jovem Adelaide volta e meia se sentia mãe dos irmãozinhos, dava bronca, sentava o chinelo quando precisava e volta e meia a noite eram o colo dela que procuravam quando estavam com medo da trovada.

                Em mais uma tarde comum a menina voltava para sua casa com um cacho de banana que ela havia apanhado próximo ao riacho, era um cacho grande mas a menina era forte, braços rígidos e erguidos, o cacho vinha deitado em sua costa, a cabeça baixa devido ao peso que o cacho fazia em sua cabeça permitia que ela apenas observasse seus passos na estrada de chão, sua marcha se mantinha continua rumo a sua casa, até que o barulho de mais passos, violão, tambor e cantoria a chamaram atenção..
Os devotos do Divino vão abrir sua morada
Pra bandeira do menino ser bem-vinda, ser louvada, ai, ai”

                A jovem arriou o cacho de banana no chão e olhou encantada a passeata que passava em direção contraria a que ela estava indo, diversos devotos da bandeira do divino estava passando por ali, cantando alegres e com fé as músicas tradicionais daquela manifestação religiosa, estavam ali vários conhecidos da região do Pagará Grande, inclusive o padre, enquanto todos passavam pelo caminho da menina, uma senhora se aproximou dela, se ajoelhou e entregou para a jovem um pedacinho de fita vermelha, é para o divino espirito santo te manter de baixo da asa dele, disse a senhora, Adelaide olhou a fitinha vermelha em sua mão, e fechou bem forte, tinha fé desde pequena naquela imagem, depois da senhora se levantar e continuar o caminho da procissão, chegou a hora de um rapaz alto parar na frente de Adelaide, ele segurava o mastro onde a imagem do espirito santo estava, o mastro era enrolado por um manto vermelho, venha menina, passe pelo manto e receba a benção do divino, orientou o rapaz empolgado para Adelaide, ela assim o fez, e quando saiu do manto, pelo outro lado do que ela havia entrado, olhou para trás e pode comtemplar todos os devotos já caminhando longe estrada a fora, iriam continuar a procissão, levando a bandeira do espirito santos para outras casas...
Assim como os três reis magos que seguiram a estrela guia
A bandeira segue em frente atrás de melhores dias aí, aí. ”

                Depois de uma pausa para respirar, cacho de banana nas costas novamente e pé na estrada, a jovem Adelaide, entrou por uma caminho a direita da rua que ela estava e começou a adentrar as propriedades de seu pai e sua mãe, passou pela porteira de madeira, atravessou o pasto, passou rente ao açude e finalmente quando chegou na frente de sua casa, largou o cacho de banana no cesto próximo a área de serviço, onde sua mãe tinha um fogão a lenha, a jovem estava suando, pegou um pano próximo ao tanque cheio de água, secou o suor e lavou o rosto, logo em seguida entrou em casa, sua mãe estava na cozinha sorrindo e fazendo sopa para todos comerem logo mais à noite, a jovem Laura estava dormindo no bercinho do lado, Sebastião e Nilza estavam na mesa ajudando a separar os bagos de feijão.

- Onde está o pai e o Juca, preciso de ajuda para pendurar o cacho de banana? Perguntou Adelaide, mexendo na barriga de sua irmã Laura, fazendo o bebe abrir um sorrisão.
- Os dois estão ali na sala, seu pai está separando uns sacos de farinha para entregar logo mais ao compadre Marcos, ele disse que iria vir aqui logo depois da procissão.

                Adelaide saiu da cozinha por um pequeno corredor, passou pela porta do quartão de seus pais e do quarto dela e dos irmãos, passou pela porta do banheiro e no final do corredor avistou seu irmão sentado de olhos arregalados, ao caminhar mais um pouco e chegar na sala, encontrou seu pai sentado em um banco virado para a porta que dava acesso à rua, o mesmo observava um sujeito estranho, cabelos escuros, pele queimada e castigada pelo sol, calças bem largas e cinzas, um sapato preto gasto e uma camisa de botão branca.

- Com toda licença sinhô, teria um copinho de água? Pediu o estranho na porta.

Adelaide observou seus olhos, eram profundos como a lua, seu rosto rígido como um cachorro bravo, a barba começava a aparecer em partes de seu rosto, trazia uma entonação de ferocidade, não era um sujeito que transmitia segurança. A menina ficou com medo e voltou correndo para a cozinha...

Continua.

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