Resenha - Sonho de uma Noite de Verão - William Shakespeare
outubro 18, 2020Depois de muito tempo sem ler uma peça, peguei esse clássicudo aqui (Vencedor da Enquete de Outubro). Sonhos de uma noite de verão tem como cenário a cidade de Atenas e um bosque em suas cercanias. No início da história temos Teseu o atual Duque da cidade preparando a farra para comemorar seu casamento com Hipólita, rainha das amazonas. O cara está de boas realizando a curadoria das apresentações do evento, têm até uma trupe de ex-trabalhadores artesanais da cidade, que largam suas profissões para ensaiarem uma peça e apresentar ao Duque no casório(pirados, largar o trabalho pra virar artista, talvez em Atenas isso fosse uma boa). Durante esse processo, Teseu recebe a visita de um cidadão chamado Egeu. O fulano vai pedir auxílio para resolver um CASO DE FAMILIA. Sua filha Hérmia está prometida ao almofadinha Demétrio, porém ela o despreza até o infinito, entregou as chaves de seu coração para outro almofadinha, o Lisandro.
Ao chamar
Teseu para intervir nesse conflito, Egeu procura a lei, a razão, e o Duque
decide se impor, diz a Hérmia que ela tem uma noite para se decidir, entre
despor Demétrio ou ir contra a vontade de seu pai e penar para sempre em uma
vida celibatária. Com pouco tempo no cronômetro, a jovem decide fugir para um
bosque isolado nas cercanias de Atenas, bola essa fuga com seu amante Lisandro,
mas antes confessa este plano para Helena, sua melhor amiga. Entretanto, Helena
é profundamente apaixonada por Demétrio, o prometido de Hérmia que só tem olhos
para esta herdeira de Egeu, então, como forma de ganhar um pouco da atenção de seu
crush, Helena explana o plano de fuga para Demétrio, assim, os dois partem na
calada da noite para o bosque, atrás de Lisandro e Hérmia.
Que confusão!
Claramente esse episódio da Malhação não vai acabar sem mais tretas. No bosque,
Oberon o rei das fadas esta em crise no seu casamento com Titânia a rainha das
fadas. Recentemente a soberana do pó de pirlimpimpim encontrou uma criança, que
diz ser extremamente especial, só têm olhos para ela ignorando qualquer outro
amor, causando ciúmes e inveja em Oberon. Meio perdido durante esta noite no Bosque,
andando atrás de Titânia, Oberon observar o quarteto de amantes em sua grande
confusão. Para resolver esse conflito, não por meio da lei e da razão, mas por
meio da magia, ele ordena que Bute (um duende mega atrapalhado e seu fiel
escudeiro), pingue nos olhos de Demétrio a seiva do fruto do cupido, para assim
que o jovem ateniense acordar e olhar Helena, passe a amá-la profundamente,
formando assim dois casas correspondentes em seus amores e encerrando o
conflito.
Pensou bem,
mas pensou errado Oberon, a confusão
ganha proporções Pynchonianas, quando Bute pinga a seiva nos olhos de Lisandro
que acorda durante um cochilo e vê na sua frente Helena, logo em seguida, ao
tentar arrumar a confusão, ele pinga a seiva nos olhos de Demétrio, que ai sim
vê Helena também, nesse momento a jovem já acha que os dois garotos estão em
uma conspiração tirando sarro de sua cara, tadinha da Helena, é minha
personagem favorita, mesmo sendo uma x9 do plano da sua bff. Com o quarteto
amoroso completamente fora de ordem, Hérmia chupando o dedo, Helena sendo amada
pelos dois rapazes e não acreditando naquilo tudo, você se pergunta se a
confusão teve fim, pois então, não teve. Pois a trupe teatral de ex-proletariados
também está no bosque, e Bute extremamente puto com a má qualidade da encenação
deles decidi transformar o membro que mais se acha deles em um jumento! Resultado?
Todos seus amigos fogem, o jumento fica sozinho na mata e Titânia se apaixona
por ele, isso mesmo! Bute teve a tarefa de pingar a seiva do cupido nos olhos
da rainha das fadas para que ela se apaixona-se por Oberon novamente, abrindo caminho para que o senhor
das fadas recuperasse 100% do coração de sua amada tirando o bebe especial do
caminho, porém, mais uma vez da tudo errado, Bute é tipo aquele lateral
esquerdo do teu time de futebol, esforçado, sobe e desce do ataque para defesa
sempre, mas não acerta um cruzamento!
Acho que a
primeira parte em Atenas, temos um amor sitiado pelas vias da razão, do dever
em sociedade, do olhar de terceiros, em prol da família, do sucesso, das finanças.
Já na parte do bosque, temos um amor entregue ao encantamento, onde as vias da
razão dormem, para que a seiva do cupido lave os olhos dos amantes e os deixem
indefesos para os feitiços do amor. E, por fim, retornamos para Atenas, pois
nem tudo são flores. Por meio da peça, apenas tendo como arcabouço de nossas
interpretações a fala livre dos personagens, Shakespeare consegue nos fazer
refletir, sobre as formas de amar, suas consequências, a qualidade de cada uma
dessas formas e por aí vai. Ao reler os trechos que fui marcando, é como se
fosse desencavando novas camadas de reflexões, problematizando as falas e descobrindo
novos questionamentos. Não atoa o cara tá ai até hoje, como uma mega influência
não apenas na literatura, mas na psicanálise e outras áreas do conhecimento,
toda essa possibilidade de se acessar a subjetividade complexa dos sujeitos têm
sua magia em um texto passível de muitas leituras e ainda assim simples como
essa fala, quando Demétrio pede para que Lisandro desista de Hérmia, pois Egeu
os prometeu, o ateniense responde seu rival dessa maneira:
LISANDRO – Você tem o amor do pai
dela, Demétrio. Deixe-me ter o amor de Hérmia. Você case-se com ele.
Ficha técnica: Exemplar lido foi
publicado pela TAG Curadoria na Coleção Clássicos da Literatura em parceria com
a L&PM Editores, 126 páginas de muito summer eletrohits e suspiros gregos.
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