Resenha: Onde os velhos não têm vez, de Cormac McCarthy

outubro 26, 2020

    

    Em Onde os velhos não têm vez a escrita minimalista e extremamente econômica de McCarthy é mostrada em plenitude, nos revelando mais uma vez, ser dominador da arte da escrita. Portanto, não se engane, ao abrir esse livro, você se torna uma presa deste escritor e assim como o animal entregue na planície, você vai escutar o barulho do disparo, instantes depois de ter sido acertado pelo projétil. E então será tarde demais e você já estará capturado.

    

Llwelyn Moss, um ex-combatente do Vietnã, encontra durante uma caçada um carro com corpos crivados de bala, um carregamento de heroína e milhões de dólares. Moss decide levar o dinheiro, nas palavras de McCarthy Toda a sua vida estava ali diante dele, ao optar por isso, seu destino muda por completo, se é que nosso destino pode ser alterado. Entra em cena Anton Chigurh, um assassino de aluguel, contrato por um Cartel para recuperar o dinheiro. Tal qual Tom e Jerry, inicia-se a caçada por Moss e seguindo o rastro de sangue e violência que a perseguição vai deixando encontra-se o xerife Ed Tom Bell. 

    Bell e Chigurh são claramente os protagonistas desse livro, Moss é o intermédio entre eles. O xerife é um homem velho, um ex-combatente da Segunda Guerra, com valores dos heróis de chapéu que recheavam os romances western, temos contato com os monólogos de Bell, suas angústias e reflexões sobre esse novo mundo, os anos 80. Conhecemos um homem preocupado com a sua cidade, com seu país, com o mundo.

Leio os jornais todas as manhãs. Principalmente acho para tentar descobrir o que é que possa estar vindo na minha direção. Não que eu tenha muito sucesso em evitar que viesse.” Bell.

    Do outro lado do ringue, temos Chigurh, descrito como um “assassino psicopata”, ele é fechado, enigmático, com ideias e valores obscuros, sem empatia alguma. Chigurh é o oposto de Bell, é o novo mundo, os novos valores, o incompreendido, a reta final das linhas do destino que desembocam em um lugar de desesperança, brutalidade e individualismos.

    
No fim, McCarthy nos entrega um romance policial impecável, uma caçada de gato e rato que tira o fôlego, te deixa tenso, cenas de encontros e desencontros memoráveis. É um livro de clima denso, onde a sensação de que algo ruim vai te atingir é constante. Os diálogos como em todo livro dele são ótimos e as discussões sobre valores, sociedade, velhice, a vida e seu fim, são a cereja do bolo.

Ficha técnica: Editora Alfaguara, Ano 2006, 256 páginas, cara ou coroa?

0 comentários

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Página do Facebook