Livro Comentado 1# Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias de Flanney O'Connor

março 31, 2020


Te benzo e te curo com a merda do burro, te benzo e te mato com a merda do rato


Incrível!
Nascida em 1925 no sul dos Estados Unidos, de menina a mulher, entregue a escrita e a leitura, e estes por sua vez se entregaram a está espetacular escritora. Flannery O'Connor é daquelas pessoas fora de seu tempo, seus contos neste livro tocam a barbárie humana, nos revelam aqui, de diversas formas (de horrendas a humoradas), que em nosso amago se encontra o mal, se encontra a violência, nosso amago é pútrido, a espera de uma benção? Talvez, para alguns chega, como vemos em Um Homem Bom é difícil de encontrar, mas pode chegar tarde demais. 

Os contos de Flannery abrem espaço para discussões religiosas, discussões de gênero, xenofobia e racismo, temos uma seleção maravilhosa de seus contos neste livro! 

Pesquisei um pouco e li alguns debates em grupos na internet a respeito da autora ser racista etc e tal, difícil resposta, Flannery é uma escritora de sua época neste sentido, a percepção sulista americana daquele tempo está descrita em suas linhas com maestria e precisão, se em um aspecto digo que ela é uma escritora fora de sua época, em outro afirmo com convicção que ela era uma escritora de sua época, relata e testemunha todo uma forma de perceber, subjetivar, sentir, viver, gozar, amar, odiar em rigor naquele tempo.

 Destaco o conto em que o netinho e o avô vão viajar de trem para a cidade natal do netinho, durante o trajeto o avô se irrita com o menino, pois o mesmo diz que nada de interessante terá na viajem, uma vez que se lembra de todo o percurso pois passou por lá de trem quando se mudou para o interior. O avô rebate esta afirmação de seu neto, diz que o pequeno jamais se lembraria de uma paisagem vista por ele quando era apenas um bebe de colo que mal abrir os olhos conseguia, em seguida o velho desafia o garoto novamente, o questiona a respeito dos negros, o netinho fica intrigado e diz lógico que reconheceria os negros que lá vivia, pois nasceu lá, o avô da gargalhadas e responde: "Você nunca viu um negro na vida", insistiu o avô... "Se viu, nem sabia o que era. Um criança de seis meses não sabe que diferença existe entre um negro e os outros." 

Negro, os outros, diferença, a questão da "inocência" da criança, aprender, diferenciar, cortar, dividir, segregar .

Algumas passagens dizem mais que uma entrevista inteira

Flannery O'Connor toca o horror de uma humanidade com sua barbárie desvelada, com sua fé colocada em cheque e suas fortalezas de moralidades frágeis e questionadas sofrendo um cerco.

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