A Elfa e o Marujo

outubro 31, 2018



Vou contar uma história antiga para muitos, dessas que são contadas e recontadas por todas as gerações, escondido no extremo sul do continente de Édoras, protegido de um lado por um labirinto de cânions rochosos e do outro pelo Grande Mar se encontra em um arquipélago de belas ilhas o reino élfico de Minalum. Todas as pequenas ilhas do gigantesco arquipélago se conectam em uma ilha central, lá fica o grande palácio élfico, onde os maiores magos do povo se concentram e governam o reino em conjunto.

Minalum é regida pelos Magos Conselheiros, somente os mais velhos, sábios e poderosos elfos do reino podem adentrar nele, a proteção do arquipélago fica sob a responsabilidade dos Magos de Batalha, formada por elfos que combinam suas habilidades físicas de luta com suas habilidades magicas também voltadas ao combate.

Como em todos os reinos élficos de Édoras a fé na deusa Lathellanis é muito forte e extremamente presente na vida do povo, especialmente no arquipélago de Minalum existe uma ilha somente reservada aos devotos da deusa élfica, lá foi construído um templo para a realização de cerimonias importantes, além de existir um prédio onde as elfas e elfos que se dedicam a fé e aos ensinamentos da deusa permanecem estudando sobre magicas de cura, encantamentos diversos e a história do povo.  

É na ilha onde fica situado o templo da deusa Lathellanis que nossa história começa, em uma das torres que preenchem a superfície da ilha se encontrava uma jovem elfa, sua pele branca refletia a forte luz do sol e quem observasse a torre de longe poderia chegar a pensar que fosse o reflexo de algum farol, cabelos loiros quase prateados, pareciam banhados de alguma espécie de metal raro, seus olhos azuis fitavam o Grande Mar, a jovem elfa se chamava Níliel, sonhava desde criança com o mundo para além do arquipélago, se encantava com as histórias dos patrulheiros da grande copa, a maior ordem de elfos patrulheiros do reino Élfico de Lódrin, sonhava em conhecer as minas dos anões e cavalgar nos fortes cavalos dos Cavaleiros da Planície, heróis humanos do Reino de Gaderon. Os estudos no templo de Lathellanis eram puxados e intensos, Níliel se dedicava ao estudo da história antiga dos elfos e um pouco também no estudo das magicas de cura.

A jovem elfa passava os dias estudando e ajudando nas diversas tarefas do templo, volta e meia quando conseguia uma folga dessa rotina, escapava para alguma das torres e ficava lá observando o mar e deixando o tempo passar, era para lá também que todas as noites ia antes de dormir, levava consigo algum livro e permanecia lendo iluminada pela luz da lua, até o sono chegar, então ela fechava o livro, descia da torre e se dirigia para o dormitório. Em uma certa noite o livro foi fechado mais cedo, uma tempestade tomou conta do mar e do céu rapidamente, quando Níliel se deu conta a chuva já estava caindo de maneira torrencial, a jovem elfa desceu correndo os degraus da torre vazia e foi para o lado de fora, estava bem afastada do dormitório então precisava correr para evitar problemas com seus monitores. Foi aí que no meio dos barulhos de trovões um chamado de socorro chegou, alguém gritava no meio daquela tempestade, a elfa parou no meio do caminho e prestou atenção, o chamado vinha do penhasco ali próximo, alguém deveria ter caído nessa chuva e ficado preso nas encostas rochosas da ilha, algo deveria ser feito o quando antes pois o mar estava agitado e a colisão de uma onda na encosta da ilha poderia fazer até mesmo a mais poderosa armadura ser amassada como um papel.

Níliel puxou de sua bolsa um frasco de cristal com um liquido fluorescente dentro, agitou levemente e o mesmo começou a brilhar como uma lanterna, se aproximou do penhasco e com a iluminação da luz avistou um jovem preso as pedras da encosta, ele sacudia os braços pedindo ajuda, rapidamente a ágil elfa saltou pelas pedras e desceu até onde o rapaz se encontrava, com a ajuda dela o mesmo conseguiu se soltar de alguns pedregulhos e depois de muito esforço os dois já estavam seguros a cima do penhasco e próximos da torre vazia.

Era um rapaz jovem, deveria possuir uns 20 anos de idade, cabelos castanhos e longos até o ombro, estava com roupas simples e uma mochila de couro, completamente molhado e sujo de lama, seus olhos estavam vidrados na elfa, a chuva cai sobre ela e a luz do frasco de cristal magico só aumentava a aura quase divina que a figura daquele ser aparentava durante a noite, Níliel se aproximou dele e se ajoelhou para observar o rosto do jovem, ela nunca havia visto um humano na vida, o rapaz tocou a ponta da orelha da elfa, a mesma se assustou um pouco em um primeiro momento, mas em seguida sorriu, gostou do toque e também do sorriso dele.

Após o resgate os dois subiram para a torre vazia, o jovem se apresentou para a elfa, se chamava Tristan, estava iniciando sua vida como marujo de uma pequena tripulação comercial, segundo ele, seu navio havia sido arrastado pela tempestade até os rochedos que protegem o arquipélago e no meio da confusão ele caiu no mar e parou ali na ilha. Níliel se comoveu com a história, disse que iria ajudar o jovem a voltar para o mar de alguma maneira, precisava de tempo para pensar em algo e o orientou a permanecer naquela torre, se secar e se recuperar do cansaço, ela iria visita-lo todas as noites para ver como ele estava e também para deixa-lo a par de seu plano para conseguir talvez um barco e enviar ele para o mar novamente, uma vez que a relação dos elfos de Minalum com os humanos é extremamente fechada e qualquer um que for encontrado no arquipélago deve ser encaminhado diretamente para a  Ilha central.

Assim que a elfa o deixou, Tristan ficou completamente parado em uma das salas da torre que haviam ocupado para ele se esconder, após um minuto de perplexidade ele abriu sua mochila de couro, retirou um conjunto de roupas secas e também uma caixinha de metal, olhou para os lados e abriu a caixa, nela estavam diversos papeis enrolados, o jovem começou a abrir eles, o primeiro era um mapa do arquipélago, com um X carimbado em uma parte da uma das ilhas, em outro papel estava escrito: “Piratas de Filbo o Corvo, plano de invasão e saque do templo élfico...” o restante da carte continham diversos detalhes de como iria proceder o plano de aportar na ilha e de como iria seguir o saque e fuga, a parte de Tristan seria localizar nas costas rochosas o local ideal para a tripulação chegar na calada da noite sem que fossem pegos pelos imensos corais e rochas que protegem todo o arquipélago. O jovem olhou para aquele papel por diversas vezes, estava suando, depois de refletir, decidiu guardar ele novamente em sua mochila e ir descansar, colocou a roupa encharcada estendida e vestiu as secas, nas suas costas nuas iluminadas pela luz do luar, um corvo negro se encontrava tatuado.

Os dias foram se passando, durante todas as noites, Níliel ia até a torre e lia para Tristan a respeito das histórias do mundo élfico, o rapaz encantado, retribuía para ela, falando de como era o mundo dos humanos e a vida abordo de um navio “mercante”, falou das diferenças raças e linguagens que ele já havia conhecido em tão pouco tempo de tripulação, contou sobre os negócios com os anões, sobre as correntes marítimas, sobres os diversos tipos de peixes, baleias e golfinhos que já encontraram e até sobre como tomavam cuidado com os piratas. Ambos estavam se dando bem e depois de umas três noites convivendo um com o outro, Tristan já começava a sentir saudades de Níliel durante o dia e a elfa que passava seus momentos de estudo pensando em uma rota de fuga para Tristan não segurava sua ansiedade para que a noite chegasse e os dois se encontrassem novamente.

Na quarta noite a elfa mostrou para Tristan um jeito dele sair do arquipélago sem ser visto, a estratégia de Níliel seria esperar mais duas noites, uma nova tempestade estaria se aproximando sendo assim, ela iria aproveitar a confusão e a chuva para levar Tristan até uma pequena praia na ilha, lá se encontravam diversas pequenas embarcações que os elfos do templo utilizam para navegar até outras ilhas do arquipélago, desse modo, Tristan poderia se esconder na praia e depois que a tempestade acalmar, usar um daqueles barcos para navegar com tranquilidade por entre os corais e rochas e sair em segurança.

- É perigoso, mas acho que suas habilidades de navegador vão dar conta – Brincou ela.
- Não sei nem como te agradecer Níliel, um dia volto como capitão de uma tripulação inteira e te levo para conhecer os sete mares comigo! – Disse Tristan.

            No dia seguinte, Níliel não tirava as palavras e as noites conversando com Tristan da cabeça, ela sabia, que teria somente mais duas noites com seu mais novo amigo e alguma coisa estava apertando seu coração, nada havia mexido tão forte assim com ela em sua vida inteira, a elfa já não prestava mais atenção na aula e volta e meia acabava se atrapalhando com alguma tarefa rotineira, percebeu depois de refletir um pouco que nunca se interessou em saber tanto de uma pessoa como estava se interessando pelo humano Tristan. Quando a noite começou a cair, Níliel preparou uma cesta de comida e bebida para se despedir do jovem em sua última noite juntos.

            Enquanto isso, antes da noite cair, Tristan passou o dia na torre, pensando que a sua tripulação pirata, seguia nas redondezas da ilha apenas aguardando o seu sinal na calada da noite para que adentrassem o arquipélago em segurança e saqueassem o templo élfico, o jovem humano nunca teve conhecimento a fundo do que aquele povo era realmente e as noites com Níliel foram extremamente esclarecedoras, os elfos eram um povo orgulhoso de sua raça, extremamente focados em seus laços um com os outros e em sua conexão com a natureza e magia, era preciso muita cautela nesse momento, Tristan pensava em Níliel e tinha medo que algo acontecesse com ela, caso descobrissem que os piratas invadiram a ilha para roubar artefatos valiosos dos elfos, o jovem deveria tomar uma decisão, deveria optar pelos interesses dos piratas das quais fazia parte e saquear o templo para conseguir riquezas e todos os piratas satisfazerem seus desejos individuais ou  optar por abortar a missão e seguir o que seu coração estava dizendo...

            A penúltima noite dos dois juntos na torre vazia foi divertida e para ambos, Tristan presenteou Níliel com uma coroa de flores que ela havia feito com as diversas flores que cresciam pelas paredes da torre e a elfa agradeceu corada o presenteando com a cesta de comida, ambos beberam e comeram, riram juntos e conversaram sobre um futuro onde se reencontravam e saiam para conhecer o resto do mundo a sua volta, conversaram muito, como em todas as noites que havia passado a troca de conhecimentos entre os dois era constante, Níliel aprendia sobre o mundo dos humanos e Tristan sobre o mundo dos elfos, foi  entre um pausa silenciosa e um sorriso que os dois se beijaram, trocaram carinhos e olhares, acabando por adormecerem ali juntos entre pequenas flores que cresciam pelas paredes da torre, iluminados pela lua cristalina da lua.

            Na manhã seguinte Níliel acordou desesperada e apressada, não poderia se atrasar para a sua aula e dessa maneira saiu correndo, juntou rapidamente suas coisas e colocou na sua bolsa, nem teve tempo de perceber que o frasco de cristal magico ficou no quarto de Tristan e que por engano estava levando consigo a caixa de metal do jovem pirata.

            Durante o dia a correria foi grande para a jovem elfa, durante a aula o nervosismo e ansiedade foi grande, as imagens dos momentos da noite anterior passavam por sua cabeça, era quase como sentir novamente o toque de Tristan por sua pele. Durante a tarde a tempestade que estava prevista pelos meteorologistas élficos começou a se aproximar e não demorou muito para que a chuva caísse, Níliel foi para a biblioteca arrumar as coisas para a fuga de Tristan naquela noite, havia preparado durante o almoço uma pequena caixa com pão élfico e frutas para o jovem rapaz, enquanto conferia sua bolsa para chegar se tudo estava ali encontrou a caixa de metal com a carta dos piratas e o mapa da ilha onde estavam nela, o X demarcado sinalizava a praia onde os elfos ancoravam as pequenas embarcações de transporte, lagrimas escorreram pelos olhos de Níliel, um aperto no peito dilacerador tomou posse dela, tremendo muito a jovem mesclava sensações de raiva, decepção e tristeza, não era possível que todas aquelas noites juntos fossem apenas mentira.

            A noite já estava chegando, a chuva esta engrossando e Níliel aos prantos saiu correndo na direção da torre vazia, não sabia o que pensar sobre tudo aquilo que tinha descoberto nas coisas de Tristan, era impossível que a paixão repentina entre os dois fosse falsa, a jovem elfa jamais sentiu falsidade nas palavras de Tristan, mas estava disposta a fazer qualquer coisa com ele ao chegar na torre.
            Subiu os degraus apressadamente, escancarou a porta do quarto que usaram para esconder o jovem pirata e Níliel encontrou o cômodo completamente vazio, a mochila de Tristan não estava mais ali, nenhuma roupa havia sido deixada para trás, a elfa desabou de joelhos, ainda não era possível acreditar que tudo aquilo era mentira, que todas as palavras e promessas de Tristan era para enganar ela e facilitar o acesso dos piratas ao arquipélago, realmente os humanos não eram confiáveis, Níliel se levantou e estava disposta a ir para a praia e frustrar a invasão pirata sozinha, ao se virar a elfa repara em uma pequena mesa que estava na sala ao lado da porta, em cima dela uma carta lacrada com um selo de corvo negro dizia “Para Níliel, minha amiga elfa...”

            O Semblante de raiva passou e as lagrimas voltaram, Níliel abriu a carta e leu, havia sido escrita por Tristan, nela o jovem pirata contava a verdade, informou que era um jovem pirata da tribulação e havia sido escolhido para executar essa missão, porém o mesmo confessava que logo ao ver Níliel começou a questionar suas motivações para fazer aquilo, começou a questionar o estilo de vida que estava levando para entrar nos piratas e percebeu que aquilo não era o que ele realmente queria...

 “Você em poucos dias mudou completamente a minha vida Níliel, acho que com a sua luz eu consegui nessas noites que compartilhamos juntos, ser quem eu realmente sou, consegui me despir das armaduras ruins que vesti durante minha vida e ser realmente Tristan, você descobriu o que existe de melhor em mim, peço desculpas por tudo, agora me deixe arrumar os erros que cometi, espero um dia, encontrar você novamente, aqui ou nos sete mares...
                                                                                                      Ass, Tristan.”.

            “Arrumar os erros que cometi...” Níliel temia o pior e foi correndo em direção da praia, debaixo de chuva e com os pés sujos de lama a elfa do topo do morro que levava a praia a observou do alto, não conseguia com seus olhos de elfo localizar Tristan na areia, os barcos élficos estavam todos fortemente presos e as ondas os sacudiam sem piedade.

            Descendo até a areia gritou por Tristan, procurou o jovem dentro dos botes que estavam em terra e nos arredores da praia, não encontrou nada, desesperada olhou para o mar, completamente escuro e agitado, o vento fazia com que os pingos de chuva batessem com força no rosto da elfa, ela entrou na água até a canela, juntou as mãos na frente do peito se concentrou e começou a orar, os trovoes volta e meia clareavam sua visão, Níliel fechou os olhos e começou a mentalizar Tristan, se Lathellanis a iluminasse ela iria ter um sinal de onde estaria ele, um barulho imenso de trovão fez com que ela abrisse os olhos, o mar foi iluminado por um segundo e meio completamente e no meio dele, por entre as ondas e as pedras mais próximas um gigantesco barco pirata passava, sacudindo e sendo jogado de cima para baixo suas velas negras estavam quase sendo arrancadas pelo vento, Níliel estranhou o barco não estava navegando na direção da praia, havia passado reto da estreita entrada e seguindo para os rochedos, foi somente nesse momento que ela observou, no extremo da praia, depois de seu fim, uma imensa luz havia se ascendido, era Tristan, o jovem pirata foi para os rochedos no final da praia, se enfiou por dentro deles e do alto de uma rocha próximo ao mar sinalizava para o navio pirata com o frasco de cristal magico, a luz era forte como a de uma lanterna e os piratas remavam com força até lá acreditando que era o ponto de embarque.

            Níliel gritou, os trovões também e o barulho do grande barco pirata Asa Negra comandado por Filbo o Corvo colidiu nos poderosos rochedos que enchem e protegem o arquipélago elfo de Minalum, o navio foi completamente despedaçado quando e as ondas permaneceram empurrando tudo que restou do acidente contra o rochedo até o amanhece quando a tempestade terminou. A elfa permaneceu de joelhos na praia também até o amanhecer.

            Essa história entre a sacerdotisa élfica Níliel e o jovem pirata desertor Tristan é contada em todo o continente de Édoras por bardos e aias dos lordes, uma história que para muitos elfos significa que até o povo mais egoísta e destrutivo do continente pode ter uma bondade a ser encontrada, ela é também uma história que para muitos piratas significa que você nunca acreditar em outro pirata, muito menos se ele estiver apaixonado. Eu gosto de pensar nessa história como um simples conto de romance, um conto que mostra como nossa vida tem a capacidade de nos surpreender quando menos esperamos, um conto que mostra como é a paixão e sua habilidade de nos atingir e nos fazer refém dela quando menos esperamos, gosto de pensar na história de Tristan e Níliel, como uma história de amor, sobre o amor na verdade e de que como ele tem a habilidade de transformar o coração de qualquer pessoa, até mesmo do pirata mais sujo que existe nessa taverna aqui.

Ass: Bobby, Pé de Pena - Beberrão, contator de histórias e ladrão das suas moedas se você der bobeira.

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