A Gata Ruiva - parte 2

março 26, 2018



1952 São Pedro de Alcântara, primeira colônia alemã do estado de Santa Catarina.

Sexta Feira
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            A Igreja Matriz de São Pedro de Alcântara se encontrava completamente iluminada naquele final de tarde, havia sido uma sexta feira de sol muito quente, o povo no final do dia, aproveitando a trégua cedida pelo sol, se arrumava e migrava para a praça no centro da cidade, dali subiam todos em conjunto o morro em direção da colossal e bela estrutura santa.  

            Dentro da igreja o calor era enorme, tanto quanto a fé de todo aquele povo, que entre muito suor e preces faziam seus pedidos e agradeciam suas graças, com as mãos segurando firme seus rosários e os olhos fechados se concentrando na palavra do padre, que tomando o pão em cima do altar dizia:
- “Tomai, todos e comei: isto é o meu corpo que será entregue por vós”. Em seguida, tomando o cálice completava: - “Tomai todos e bebei: este é o cálice do meu Sangue, o Sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos, para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim.”.

            Nessa hora os sinos soavam cintilantes, imediatamente após a última palavra do padre, embalados pelos cânticos costumeiros da Eucaristia, os católicos começavam a se mover pela igreja, se apertando uns nos outros em direção do altar para receber do padre a abençoada hóstia. Enquanto isso, no meio de toda essa confusão organizada, um pequeno menino de apenas 5 anos de idade, fitava os quadros espalhados pela igreja que representava e contavam a história da paixão de cristo, seu nome era Alberto, tinha um certo medo das imagens e da maneira como cristo era tratado pelas pessoas, a coroa de espinhos, o sangue, a cruz, o chicote, o choro da mãe e o desespero dos apóstolos o deixava chocado com tudo aquilo, morrendo de calor o jovem Alberto saiu de fininho para a rua, logo que pôs os pés do lado de fora da Igreja sentiu a fresca brisa que fazia no alto do morro, se aproximou de um canteiro de flores na beirada da igreja e apreciou dali de cima a vista do centro de São Pedro de Alcântara, ele conseguia observar a praça, a prefeitura, o bar, a mercearia, o rio e a longa estrada que levava em direção a um lugar que ele nunca imaginaria ir.

            Seu momento de imersão foi roubado com o termino da missa e com a saída barulhenta de todo o povo da Igreja.

- Al! Estava procurando você lá dentro! – Dizia uma senhora loira, com cerca de 30 anos, tinha os cabelos amarrados, tipo rabo de cavalo, bochechas rosadas e olhos azuis, vestia roupas simples, limpas e bem arrumadas, ela se aproximou do menino, ficou na altura dele e mexeu nos cabelos negros do garoto. – Eu estava querendo fugir daquele calor também filho.

            Logo após a chegada de sua mãe, veio se aproximando por trás dela um homem alto, de ombros largos, um pouco forte, porém de corpo fino e esguio, tinha os cabelos negros e um pouco encaracolados, parecidos com o de Alberto, sua barba estava por fazer e seu rosto parecia abatido, possivelmente mais um trabalhador rural que sobreviveu a uma longa semana na roça. Junto a ele chegava um casal com uma criança.

- Rebeca, este é o irmão do senhor Afonso, Dr. André, irmão dele e sua esposa Julieta. Vão nos acompanhar até o casarão, vieram passar o fim de semana aqui em São Pedro.

            Rebeca se levantou e foi logo cumprimentar o casal, André era baixinho e gorducho, tinha o cabelo bem penteado para os lados e um pouco molhado, vestia uma camisa branca por dentro da calça preta e um paletó por cima da camisa, sua cinta, bem presa na frente da barriga, parecia que ia estourar a qualquer momento. Julieta era o inverso do marido, um pouco alta, tinhas os cabelos ruivos e era bem magra, estava com uma blusa de lã por cima do vestido.

- Aqui em São Pedro faz mais frio que em Florianópolis, mas acho que irei me acostumar rapidamente -  Disse Julieta apertando a mão de Rebeca.

            André olhou para um lado e para o outro, procurava algo, quando encontrou, sua filha havia saído do seu lado e se parado na frente de Alberto, estava curvada encarando o pequenino.

- Olha que criancinha fofa, tão branquinho com os cabelos tão escuros – Dizendo isso deu uma leve apertada nas bochechas de Alberto.
- Cuidado para não assustar a criança filha – Dizia rindo Dr. André – Sr. Hélio, Sra. Rebeca, essa é nossa filha Ester, ela tem 13 anos, estava empolgada demais para vir a São Pedro passar o fim de semana na casa de meu irmão.
- Olá – Respondeu a garota sorrindo. Ela tinha as bochechas do pai, os olhos claros da mãe e seus cabelos ruivos também, uma garota de porte mediano para sua idade, estava de vestido e vestia também uma blusa de lá, cor verde, para se proteger do frio.

            Hélio abraçou a mulher pelos ombros e disse – Vamos todos juntos até a caminhonete que está estacionada na praça, você me segue até o sitio de seu irmão Dr. André, ele já deve estar nos esperando com a janta, se conheço bem o Dr. Afonso comida vai ter para um batalhão!

            Todos estavam famintos, desceram o morro e pegaram uma estrada oposta da que levava para a capital, o sitio se encontrava um pouco isolado do centro de São Pedro de Alcântara. Era um lugar lindo, Afonso era o dono da terra e um grande negociador, frequentava São Pedro desde jovem, obteve forte influência na cidade e construiu no meio da propriedade um gigantesco casarão, trabalhou dia e noite para conseguir tudo que conseguiu, porém, como uma armadilha do destino, atualmente o Sr. Afonso se encontra acamado, uma forte doença o atacou e suas pernas travaram, com cerca de 50 anos ele anda apenas de cadeira de rodas, devido também a excesso de trabalho, nunca teve mulher, vive no casarão com Hélio que é o caseiro da propriedade e seu braço direito, Dona Odete a cozinheira, Sra. Matilde sua faxineira e mais alguns funcionários. A chegada de seu irmão é um motivo de muita felicidade para o velho enfermo.

            No casarão a noite o clima foi agradável, Sr. Afonso tinha um rosto envelhecido, porém um sorriso jovial, seus cabelos eram cheios e quase longos, totalmente grisalhos, ele se sentou na cabeceira da mesa e depois do jantar ser servido, abriu três garrafas de vinho, tomou junto com seu irmão e a esposa e com Hélio e Rebeca, as gargalhadas rechearam o casarão naquela noite, Sr. Afonso era o maior inventor de histórias engraçadas que todos ali já haviam conhecido, junto com o irmão era uma dupla de tanto.
           
Nosso jovem Alberto se sentou do lado da bela daminha de cabelos vermelhos Ester, e enquanto ela ficava corada com o final de algumas piadas, Al não tirava os olhos dela, sem entender, devido à idade, metade das histórias que estavam sendo contadas naquela noite de vinho.

            O Casarão tinha espaço suficiente para mais o triplo dos convidados que estavam ali naquela noite, Sr. Afonso dormia no primeiro andar, havia abandonado sua suíte no terceiro andar desde que perdeu o movimento das pernas, logo deixou o quarto do terceiro andar para seu irmão. Hélio e a esposa dormiam no segundo andar, em um quarto bem ajeitado e com tudo que precisavam, já o jovem Alberto dormia no primeiro andar, em um outro quarto, Sr. Afonso gostava bastante do garoto e havia comprado uma escrivaninha e um baú de brinquedos para ele. As noites dormindo no seu quarto sempre foram extremamente calmas, o menino tinha um sono pesado, era sempre um trabalho danado para Rebeca acorda-lo e preparar ele para acompanhar o pai nos afazeres da fazenda, coisa que já haviam começado a introduzir no cotidiano do menino, porém seu sono pesado não iria resistir aquela noite de sexta feira, um forte vento começou próximo da meia noite, soprou as arvores próximas ao casarão com muita força, as folhas voaram pela entrada da casa, se espalharam pela varanda, um galho foi forçado tanto que quebrou e bateu contra a janela de Alberto, ele levou um susto e se levantou meio sonolento, uma pequena fresta na janela se abriu, dela uma brisa gelada infestou o quarto, o garoto se abraçou, esfregou os braços e caminhou até a janela lentamente, seus pés estavam quentes da cama e foi inevitável não sentir frio ao pisar no piso gelado, quando estava a alguns passos da janela, algo saiu de trás da cortina a erguendo quase até o teto, só para instantes depois retornar em sua posição inicial em total inercia ao lado da janela, Alberto suspirou aliviado, era apenas efeito do vento.

            O menino encostou a janela, deu meia volta e rumou em direção a sua cama, se tivesse sorte ainda pegaria ela aconchegante e quente, quando estava puxando os cobertores para se deitar, ele ouviu um estralo vindo do andar de cima, bem em cima da sua cabeça, não lembrava naquele momento que cômodo era o que ficava a cima de seu quarto, era muito pequeno para se lembrar dessas coisas, porém, foi corajoso o suficiente, para calçar o chinelo, se enrolar no cobertor e sair do quarto atrás do barulho.

            O jovem Al cruzou rapidamente o saguão de entrada do casarão, subiu de maneira acelerada as escadas para o segundo andar, pisando em cada um dos degraus, ao alcançar o andar de cima, pegou o caminho da direita, e entrou no corredor de onde havia se originado o barulho, ao observar o corredor encontrou uma das portas aberta, lembrou que era onde ficava o escritório do Sr. Afonso, local que a muito tempo não era frequentemente visitado na casa a não ser pela senhora Matilde, Alberto foi se aproximando pelo corredor escuro, um passo de cada vez, a porta aberta até a metade, lançava no corredor uma luz, era a luz da lua que iluminava completamente o escritório, de mansinho Alberto foi se aproximando da porta, sempre do lado oposto de onde a luz insidia no corredor, até alcançar a maçaneta da porta e a abrir totalmente, sendo alvejado pela luz da lua.

            O escritório do Sr. Afonso era algo simples, uma sala ampla, com uma mesa redonda a direita, cercada por duas cadeiras e uma serie de estantes de livros que enchiam a parede, no centro da sala havia um sofá para duas pessoas e uma poltrona, na esquerda da sala um armário antigo de madeira fechado e a escrivaninha, abandona e muito tempo. Nada disso chamou a atenção de Alberto, pois logo que entrou percebeu que a porta que dava acesso a sacada da sala estava aberta, e era ela que abria espaço para luz da lua, o garoto seguiu reto pela sala, passou a poltrona e o sofá, quando se aproximava da porta para a sacada a passos acelerados, tropeçou e exclamou.

- Ai!

            Olhou imediatamente para baixo e viu que havia dado uma topada com o dedo mindinho do pé direito em um Globo Terrestre de madeira que estava caído no chão, devia ser esse o objeto que provocou o barulho, mas quem o havia derrubado e aberto a sala?

            Alberto encontrou Ester parada de maneira estática na sacada, ela observava vidrada as arvores da floresta que extremava com o sítio, a copa de todas as arvores balançavam de maneira violenta devido à forte ventania daquela noite. A camisola branca que a garota usava para dormir balançava com o vento igual uma bandeira hasteada, sua cabeleira ruiva brilhava com a luz da lua. Ester se virou para Alberto segundos depois dele chegar.

- Desculpe se te acordei, fiquei com medo da ventania e decidi caminhar um pouco para ter certeza de que não era nada.
- Está muito frio. – O menino batia queixo.
- Sim, é a ventania, me lembra Vento Sul, mas acho que os ventos do litoral que assolam a ilha não chegam aqui, a floresta desabaria. – A menina se ajoelha e abraça Alberto – O vento já vai acabar, agora vamos dormir.

            Ester estava quente, o abraço dela parecia uma lareira, Alberto arregalou os olhos e se sentiu bem pela primeira vez naquela noite.
Sábado.

            Logo pela manhã, todos levantaram bem cedo, tomaram café na mesa em que jantaram e saíram para aproveitar o sol, enquanto a Dona Odete e a Sra. Matilde arrumavam as louças sujas e recolhiam a mesa, o Sr. Afonso saiu com seu irmão e a família para a parte de trás do casarão, mostrou para eles o terreno, era gigantesco, existia um galpão velho logo atrás do casarão e era lá onde Hélio passava a maior parte do tempo durante o dia, arrumando ferramentas para realizar os trabalhos diários e etc.

            Julieta ficava grande parte do dia no casarão junto da Sra. Matilde, como a matriarca já era mais velha, Rebeca estava sempre atenta em cuidar dela e aprender todas suas funções para um dia continuar zelando o casarão como Matilde já fazia a anos.

            O final da manhã de sábado estava agradável, no espaço de trás do casarão ficava localizada uma varanda e lá ficaram o Dr. André com sua esposa Julieta, sentados se refrescando com vinho branco, o Sr. Afonso muito bem aconchegado em sua cadeira de rodas bebia uma limonada, o copo em sua mão suava, assim como o esguio Hélio que chegava do galpão castigado pelo sol.

- Bom dia senhores, depois da ventania de ontem à noite parece que o tempo decidiu abrir para valer.
- É verdade, e o que fez pela manhã Hélio – Perguntava o Dr. André, rubro da bebida e não do sol.
- Estive andando pela floresta, descendo aquele pequeno morro que existe atrás do galpão tem uma mata de pinheiros, plantada a muito tempo pelos antigos moradores daqui, depois da mata de pinheiros tem um matagal fechado, com diversas grutas e até algumas nascentes de agua, estamos planejando fazer uma cerca, para evitar que os animais entrem na mata de pinheiros e acabem se perdendo ou se enfiando na mata fechada e se machucando nas grutas.
- Entendi, aliás aonde estão as suas cabeças de gado irmão? – André se levantava para se aproximar de Afonso.
- Já tenho poucos agora, mas estão um pouco mais no início da propriedade, Hélio os tocou para lá começo da semana, parece que prevíamos esse vendaval.

            Enquanto os adultos conversavam, do lado de fora da varanda a jovem Ester estava sentada na grama, brincava com o pequeno Alberto, embora sua atenção aparentasse estar totalmente voltada para a bola que arremessava para o menino e ele correspondia com um novo arremesso, a garota de cabelos ruivos prestava atenção na conversa dos adultos, quando Al lançou a bola para ela sorrindo de animado com a companhia para brincar, ela abraçou a bola e se aproximou dele.

- Podemos ir ver essa mata de pinheiros você não acha?
- Mata não pode, só com papai.
- Não tem problema nenhum Al, já sou bem grande.

            O menino aparentou ficar receoso com a proposta de Ester, ela percebeu e abandonou a ideia sorrindo para ele. Continuaram então jogando a bola, de um lado para o outro.

            Dessa maneira as horas foram se passando, o almoço ficou pronto, a galinha ensopada da Dona Odete fez sucesso e foi a atração principal, todos saíram satisfeitos. Durante a tarde, como os trabalhos matinais já haviam acabado, todos se juntaram na sacada, ficaram bebendo vinho, chá e limonada, tinha para todos os gostos.

            As crianças permaneceram brincando, André e Hélio se juntaram a brincadeira, o Doutor era muito gordo e com algum arremesso já estava suando por todo o corpo. Assim que os adultos cansaram, Hélio decidiu mostra a André como que era o grande Galpão, caminharam pelo campo aberto até lá, as crianças o acompanharam.

            - É bem rustico, tem de tudo aqui dentro – Se impressionava o Dr. André assim que abriram as portas do Galpão.

            Dentro dele existia dois espaços para guardar cavalos, uma bancada para arrumar coisas, ao redor dela existiam diversas ferramentas, a carroça estava guardada dentro do galpão, existia uma escada que levava para a parte de cima onde existia uma pequena cama e um armário, ainda na parte de baixo estavam guardados alguns sacos de ração e galões grandes fechados

- Quando conheci seu irmão eu dormia aqui, o antigo caseiro já era um senhor velho, era descendente de alemães, ele me ensinou tudo e foi como um pai para mim, assim como o Sr. Afonso, daí eu conheci Rebeca, iria me mudar com ela para alguma casa perto do centro de São Pedro, porém aconteceu de seu irmão ficar doente, ele e a senhora Matilde pediram para ficarmos na casa e ajudar a cuidar das coisas, foi nessa mesma época que o antigo caseiro veio a falecer, uma pena, era um bom homem e cuidava muito bem das coisas por aqui.

- Que história hein, sinto que perdi muito da minha vida, ficando apenas na cidade e estudando. Meu irmão desbravou mundo, eu desbravei livros. – Lamentava André se encostando na carroça.
- Não diga isso senhor, é bobagem! Cada um tem um jeito de levar a vida. O senhor ajuda muitas pessoas com a profissão que tem!

            André abaixou a cabeça, pensamentos a respeito do irmão e sua misteriosa doença o tomavam a cabeça, mas logo foram interrompidos pela entrada inesperada de Alberto no galpão.

- Papai! Papai! A bola foi pro mato! Ela foi atrás!

            Os adultos se entreolharam e correram para o lado de fora, Ester não estava mais no alcance deles, o jovem Alberto apontou para o morro que descia e levava para a mata de pinheiros, imediatamente Hélio pegou Al pelos braços e colocou ele “de cavalinho” em seus ombros, adentraram os três a mata de pinheiros juntos.

            Era uma mata de pinheiros comum, estava um tempo muito seco e a palha no chão estralava a cada pisada que eles davam, saíram gritando o nome da Ester, sempre ao alcance um do outro, andaram em linha reta, rumavam para o fim da mata e começo do mato fechado e selvagem, Al estava assustado, muitas histórias já haviam sido contadas pela Sra. Matilde e pela Dona Odete a respeito do matagal depois dos pinheiros, tudo isso era para o garoto ficar com medo e não se meter lá sozinho, porém ele não entendia e achava que Lobisomens, Bicho Papão e homem do saco poderiam realmente estar ali.

- Não fique com medo Al, papai está aqui, vamos encontrar a Ester.

            Com os olhos arregalados, a testa suando e galopando atrás de seu pai o jovem Al avistou algo chamativo no meio da palha que recheava o chão da mata.

- A bola! – Apontou o menino para a bola de Ester, era rosa e chamava muito a atenção.

            Dr. André imediatamente saiu correndo, se ajoelhou, agarrou a bola e gritou por sua filha novamente, as ondas sonoras de sua voz ecoaram por toda a mata de pinheiros, poderia jurar que estivesse ali que cada pinha no local havia se estremecido, a tensão do grito colidiu com a entrada da mata fechada e muito provavelmente se espalhou floresta a dentro, encanando nas grutas e sendo ouvida de maneira perfeita e clara dentro delas, por qualquer coisa que ali habitasse.

            Quase anoitecendo e já a ponto de retornarem para o casarão, encontraram Ester, ela estava caminhando tranquilamente pela mata de pinheiros, a garota chorava, havia perdido um laço da cor amarelo que usava para prender os cabelos e também sua sapatilha. Foi severamente repreendida por seus pais e os adultos da casa, havia dado um grande susto em todo mundo.

            Naquela noite ventou novamente, talvez mais forte que na noite anterior, Alberto permaneceu de olhos fechados quase todo o tempo, dormindo calmamente, até um galho bater em sua janela, o menino se levantou e foi ver o que era, não avistou nada e fechou a janela, era muito pequeno e toda vez que levantava nas madrugadas, se retornasse a dormir minutos depois dificilmente conseguiria se lembrar do que fez assim que acordasse.

            Do lado de fora da sua janela, o galho quebrado é erguido por uma figura encapuzada, que caminha lentamente, em direção da mata de pinheiros que balançava seus galhos graças a força do vento, causando assim a impressão de estarem saudando a chegada de seu misterioso visitante noturno.

Domingo.

            Nas manhas de domingo, todos iam a missa, e não foi diferente naquele domingo. Dr. André acordou cedo e arrumou toda a família, Rebeca acordou cedo também, preparou a roupa de Hélio e Alberto. Assim que todos ficaram prontos, pegaram a caminhonete e foram para o centro, Ester e Alberto foram na carroceria, rindo e pegando vento juntos.

            Chegaram no centro de São Pedro após meia hora de estrada, estacionaram a caminhonete na praça, o local estava lotado de pessoas, estavam todos muito alvoraçados e assustados, os recém chegados no local não tiveram que esperar muito para saber o motivo de toda aquela falação e nervosismo logo pela manhã...

- Com o vendaval de ontem à noite, a cruz que fica do alto da última e mais alta torre da igreja veio ao chão! – Dizia o dono da mercearia.

            Nossos conhecidos da história subiram o morro da igreja a passos lentos pois todos queriam ver a cruz, e chegando na entrada da igreja lá estava ela, fincada no chão de cabeça para baixo, todos estavam chocados com a imagem, pessoas se benziam, outros viravam o olhar, alguns nem piscavam, a falação continuava, até o padre sair de dentro da Igreja e dizer:

- Calma, calma! Foi apensar o vento, isso não vai impedir de orarmos e exercitar a nossa fé no dia de hoje! Vamos levantar a cruz e dar início a missa.

            Rapidamente Hélio, o dono da mercearia, Dr. André e mais um jovem se prontificaram a puxar a cruz fincada no chão, a ergueram e conforme orientação do padre entraram com ela na igreja a deixando em pé, em cima do altar, ao lado da imagem de Cristo. Feito isso, foi dado início a missa.

            Ela seguiu da maneira que sempre seguia, Alberto ficou olhando para a Cruz quebrada que estava ao lado da imagem de Cristo durante a missa inteira, só tirou o olho dela uma vez, foi quando olhou para Ester, que com um dos dedos mexia no próprio cabelo e emitia um sorriso sem motivo, ela também olhava para o altar, mas Alberto não sabia dizer para aonde.

            Ao saírem da missa, Hélio foi convidado por Edgar o dono da mercearia a almoçar no salão da comunidade, todos iriam comer churrasco e escutar música ao vivo, Dr. André concordou e todos foram para lá. O salão estava apinhado de gente, fazia muito calor e a música agitava a todos que ali estavam.

            Alberto e Ester se entediaram rápido e foram brincar do lado de fora do salão, ficaram com as outras crianças na escadaria da entrada, jogaram bola, bate manteiga, esconde esconde e pega pega. Suaram e riram, passaram o começo da tarde de domingo como as crianças costumam passar, ao se cansar, foram para a praça com todas as outras crianças, se sentaram nos bancos embaixo das árvores e beberam água para se refrescar.

            Na praça estavam alguns jovens mais velhos, adolescentes, eles estavam em roda, rindo e tirando sarro de um senhor que estava sentado em um banco sozinho, com uma garrafa na mão, ele era alto e com os ombros largos, estava vestindo roupas que poderiam ser de luxo a alguns anos atrás, porém agora não passavam de panos velhos, o rosto dele estava vermelho e com algumas bolotas, deveria ser por causa do excesso de álcool, a barba estava por fazer, não tinha muita mas contava com alguns fiapos grisalhos e grossos, seu cabelo era grisalho também, suava muito, assim como as crianças.

- Eu estou dizendo para vocês, essa igreja está EMBRUXADA!!! – Dizia cambaleando sentado no banco
Os jovens riam. Uma moça entre eles perguntou.
- O que isso significa?
- Embruxada, até parece que você não sabe! Essa igreja está enfeitiçada agora! Por esse motivo a cruz caiu.
- Caiu pelo vento seu beberão, para de ficar falando bobagens para tentar assustar as crianças seus Boris! – Exclamou um rapaz montado em sua bicicleta que também está por ali parado, fumava tranquilamente um cigarro enquanto aparentava se irrita com a ladainha do velho.
-  sim! Foi pelo vento, o vento das Bruxas meu amigo! – Deu um leve soluço por causa da bebida. – Aquilo foi um vento sul e tanto, vento que elas trouxeram do litoral para amaldiçoar a nossa preciosa igreja!
- O velhote pirou de vez, vamos embora. – Disse o jovem na bicicleta, que jogou a bituca de cigarro no chão e saiu pedalando seguido por alguns outros adolescentes. Deixando assim na praça somente as crianças que estavam todas de olhos arregalados e com medo da história. Cambaleando sentado no banco, Boris consegue se levantar com esforço, para um pouco grogue olhando para os pés até conseguir se firmar, olha ao seu redor e percebe o grupo de crianças encolhidos no banco.
- Já serve o aviso para vocês, as diabólicas madames de Lúcifer saíram do litoral confortável de sua famosa ilha da magia e estão vindo essa época do ano para nosso fresco matagal.

            Ester, diante de todas as crianças ali era a mais crescida, se levantou do banco e encarou o velho.

- Você deveria ir para casa e parar de contar essas coisas aqui na praça, as crianças tem medo!
- Mas é para ter mesmo ruivinha! Não se metam em encrenca viu! Elas existem, o mal existe.
- Eu já tenho treze anos, não tenho medo dessas histórias de bruxas voando em vassouras!

            O velho bêbado se aproxima da garota, dobra os joelhos e a encara de olho a olho, o bafo que ele tinha naquela a tarde poderia atordoar um elefante, mas a garota permaneceu em pé de cara fechada.

- Elas gostam de crianças, dançam nuas por aí, arrancam a pele de animais e queimam velhos como eu em fogueiras, realmente as bruxas que você tem na cabeça não existem meu docinho, se proteja e passe bem.

            Boris sai aos tropeços praça a fora, as crianças estavam tremendo de medo, Ester se vira com um sorriso para o grupo, fecha os olhos e começa a contar...

10, 9, 8, 7... todos arregalam os olhos, fitam um ao outro e entendem, é hora de se esconder, as brincadeiras voltaram. 6, 5, 4, 3, 2, 1 LÁ VOU EU!

            Ester abre os olhos, sorri e sai correndo atrás das crianças.

O sol se deita e a lua inicia seu expediente.

Com a chegada da noite todos retornam para suas casas, o casarão está iluminado, acabaram de jantar e compartilhar com o Sr. Afonso, Sra. Matilde e Dona Odete os acontecimentos do dia, desde a cruz que havia caído, a missa, o almoço da comunidade e as brincadeiras da parte da tarde. Hélio estava preocupado com o Sr. Boris, pois a algum tempo atrás ambos haviam trabalho junto na reforma da praça, era um bom homem, mas depois que foi para Florianópolis atrás de novos horizontes e oportunidades de emprego, havia voltado apenas com o vício no álcool. Hélio contou ao Sr. Afonso que Boris tinha entrado a tarde no baile e feito o maior furdunço, quebrado copos, falado besteiras, até caiu e quebrou uma mesa que estava cheia de pratos sujos.

- Esse velho estava na praça contando histórias de bruxas Sr. Hélio, disse que a igreja estava embruxada. – Disse a Ester rindo e bebendo seu suco de laranja.
- É bobagem, eu sinto pena dele, tinha ambições, mas infelizmente a cidade grande não é para qualquer um. – Lamentava Hélio.
- Isso quer dizer então que as bruxas estão soltas – Ria Sr. Afonso – Bom, bruxas eu não sei, mas é triste demais a notícia da cruz ter caído, vai causar um transtorno imenso colocar aquilo de volta.
- Vai sim, e como. – Dizia Hélio se aproximando da janela da sala de jantar e olhando para fora.

            Sra. Matilde percebeu que era tarde. – Se as bruxas estão soltas as crianças devem se cuidar – Se virou para Alberto e Ester. – Nas noites de domingo elas costumam sair para caçar e qualquer criança que esteja fora da cama antes da meia noite elas pegam para transformar em torta de banana! AAAHAHAHHA

Todos começam a rir na sala, era impossível se assustar com o semblante maternal e simpático de Sra. Matilde. Após as risadas cessarem, Julieta e Rebeca subiram as escadas com as crianças, o resto do pessoal começou a guardar as coisas na cozinha. Lavaram a louça, secaram tudo, guardaram e foram para a sala de estar, sentaram confortáveis para descansar finalmente.

Logo depois de um tempo Rebeca e Julieta desceram para se juntar aos adultos. Estavam ainda no clima das risadas, bebiam um pouco de café, feito na hora. Foi entre um momento de silencio que a Sra. Matilde se pronunciou, estava dessa vez, com um semblante bem sério no rosto.

- Pessoal, não queria dizer na frente das crianças e achei também desnecessário comentar apenas para a Dona Odete e o Sr. Afonso hoje durante o dia, por isso deixei para falar apenas a noite, quando todos nós estivéssemos juntos.
- Aconteceu alguma coisa Sra. Matilde? Conta logo já estou nervosa – Disse Rebeca dando algumas risadinhas de nervosismo e se ajeitando na cadeira, Hélio estava ao seu lado atento.
- Ontem à noite, durante a ventania, decidi abrir a janela para dar uma olhada nas coisas, verificar se o casarão não estava sendo castigado pelo vento e como da janela de meu quarto eu consigo vê-lo, não me custava nada. Levantei coloquei as pantufas, vesti meu roupão e abri a janela, no meio do pasto, cruzando ele em direção da mata de pinheiros, estava o Seu Boris, segurava um lampião e estava todo encapuzado, parecia procurar alguma coisa, confesso que me assustei bastante, não consigo imaginar o motivo dele estar ali, naquela ventania toda, muito longe de sua casa.

            Todos ficaram perplexos com a coincidência, por que o Sr. Boris estaria na noite de sábado rondando o casarão com um lampião no meio daquela ventania toda? E logo depois no domingo iriam todos encontrar ele completamente bêbado no centro da cidade. Um mistério que pairou sobre todos eles naquela noite, só foram dormir quando Sr. Afonso, Hélio e Dr. André decidiram que logo cedo, na manhã de segunda feira iriam atrás de Boris para saber o motivo de tudo aquilo. Julieta era a mais preocupada, estava longe de Florianópolis, em um lugar muito isolado e depois de sua filha ter feito contato com o Sr. Boris, estava mais assustada ainda. Sra. Matilde fez um chá e acalmou a amiga, depois disso, apagaram as luzes e foram se deitar.

            Tudo terminou para eles naquela noite de domingo, deitaram a cabeça em seus travesseiros e decidiram que iriam resolver o que tivesse que ser resolvido na manhã de segunda feira, respaldados pelos raios de sol, porém para uma pessoa a noite estava começando e após ouvir a conversa deles, se sentiu mais instigado e ir atrás do que tanto o chamava.

Madrugada de Domingo para Segunda Feira.

            Alberto abre os olhos, acaba de ser acordado por uma batida de porta, logo percebe que foi a porta de seu quarto, se levanta rapidamente, vestia seu pijama de calça e camisa de mangas cumpridas, vai até a porta, ela estava um pouco aberta, decide abrir completamente e ver se havia algo no corredor. Lá estava Ester com a bola rosa nas suas mãos, e caminhava de costas para Al, assoviando. O garoto estranha e corre na direção dela.
- Ester?

            Ela estava agora parada na frente da porta que dava acesso a varanda, vestia uma camisola, seus pés estavam descalços, seus cabelos ruivos recebiam a luz da lua e estavam hipnotizantes, Al gostava deles e colocou seus dedos em um dos cachos da garota que descia pelos ombros.

- Estou com medo das Bruxas.
- Não precisa ter medo de nada Al, você é um menino que vai se tornar forte igual a seu pai, monstros e bruxas não existem. – Sorria para Al e se ajoelhava na sua frente. – Aquele homem estava contando mentiras, não precisa se preocupar. – Apertou a bochecha do menino, abriu a porta de acesso a varanda e desceu em direção do pasto.

Alberto ficou com medo, estava paralisado na frente da porta ainda, fazia frio a noite e a garota causava nele um efeito indescritível, algo que uma criança de 5 anos ainda não tinha capacidades de decifrar, compreender, mensurar e fazer algo sobre.

- Vamos jogar um pouco de bola antes de dormir, a luz da lua é o suficiente para nos dois.

            Alberto desceu as escadas, arremessou a bola algumas vezes com a menina, naquele momento esqueceu as bruxas, os monstros, o velho assustador e a mata fechada. Só estava rindo com sua nova amiga Ester, ela era uma boa companhia para o menino que estava crescendo ao redor de adultos, a brincadeira parou quando Ester arremessou a bola longe de mais, ela foi rolando pelo pasto, rolando, rolando e rolando, até chegar ao morro atrás do Galpão, sumindo da vista das crianças.
- Ester?

            A menina pegou Alberto pela mão – Eu deixei minha sapatilha e meu laço em algum lugar lá embaixo, vamos aproveitar e pegar. – Atônito e sem respostas para a atitude de Ester, o menino apenas a seguiu, caminhando lado a lado, de mãos dadas rumo a mata de pinheiros, na companhia da garota, Alberto se sentia protegido.

            A palha no chão continuava seca e dura, espetava a sola dos pés de Alberto, os estalos eram muito mais altos no meio do silencio da noite, a lua servia de luz para eles, Alberto olhava constantemente para Ester, o sorriso rotineiro da garota havia sumido, em seu lugar havia uma expressão séria e compenetrada, parecia que ela buscava algo.

            A passos rápidos, chegaram na parte da mata de pinheiros onde encontraram a bola de Ester naquela tarde de sábado, estavam a poucos metros da floresta fechada, Alberto conhecia o caminho somente até ali, portanto olhou para Ester, puxou sua mão e falou.

- Pronto Ester, temos que voltar, estou com medo.
- Ainda não achei minhas coisas Al, temos que ir. – A garota foi em direção a floresta fechada e sumiu.

            O desespero tomou conta de Alberto no momento exato que sua mão se desprendeu da mão de Ester, sua visão começou a ficar turva, o suor frio saiu de todos seus poros, olhou para trás e a lua já não iluminava mais tanto quanto antes, começou a chorar, um choro silencioso, completamente apavorado decidiu correr atrás da garota, seja lá para onde ela foi.

            A floresta fechada era diferente da mata de pinheiros, você não conseguia ver nada na sua frente, apenas mato, mato e mato. Al passou correndo e atropelando tudo, foi cortado por folhas de capim, tropeçou em raízes grossas que saiam do chão, caiu na lama, teve que pular troncos e até buracos. Completamente tomado por uma adrenalina que nunca havia sentido em sua vida, aumentou o volume de seu choro e manteve o de seus passos.

            Desesperado começou a gritar por seu pai, por sua mãe e por Ester, uma sensação de aperto tomou seu peito, parecia que algo dentro de sua caixa torácica estava sendo estufado a cada respirada, já não conseguia ver nada na sua frente, seu próprio choro o ensurdecia e em um determinado momento não conseguia mais gritar por alguém, somente gritar, gritar e gritar, até tropeçar novamente em uma raiz e rolar barranco abaixo.

            O garoto caiu em uma espécie de clareira, havia agua ao seu redor, tinha batido a cabeça no chão e por sorte ele estava cheio de lama, sujando mais o rosto do garoto do que machucando. Fraco para se ergue por completo, permaneceu caído no chão, conseguiu apenas ser erguer um pouco forçando os braços, a barriga estava grudada na lama e dificilmente conseguiria se levantar sem ajuda, balançou a cabeça e olhou ao seu redor, um gato preto passou a sua direita o encarando, Al seguiu ele com os olhos e só assim percebeu que a sua esquerda estava o Sr. Boris, parado na frente de uma gruta, o velho tremia, o lampião estava caído ao seu lado e muito sujo de lama fazia pouca luz, ao redor do senhor Boris, gatos de todo o tipo o rondavam, miavam e pareciam feras prontas para abocanhar sua presa.

- Eu sabia, eu as encontrei, garota SAI DAI, GAROTA RUIVA SAI DAI!

            Al cerrou os olhos, fixou sua atenção para dentro da gruta e viu que saindo de dentro dela estava Ester, tinha em uma das mãos o laço amarelo, a menina caminhou na direção do Sr. Boris, o velho deu uns passos para trás e caiu de costas na lama. Ester agora estava parada na frente dele completamente iluminada pela lua, de dentro da gruta outro ser saiu, uma mulher em um vestido preto, ela  possuía os braços cheios de pelo e Al percebeu que suas mãos eram como a de um gato, essa mulher continuou caminhando e parou ao lado de Ester, completamente iluminada pela lua a mulher de vestido preto tinha os dentes iguais ao de um gato, cochichou algo no ouvido de Ester e se virou, voltando para dentro da gruta, Al pode perceber que ela tinha uma cola de gato.

- Obrigado Sr. Boris, por me guiar até aqui, agora chegou a hora de você partir. – Disse Ester que em um movimento rápido apontou para o velho, todos os gatos no lugar se aproximaram, o miado deles poderia deixar surdo qualquer pessoa, miaram até fazer Al fechar os olhos e quando o garoto os fechou, pularam em cima do velho Boris e se alimentaram dele.

            Alberto só conseguia gritar, tentou se levantar, mas não conseguiu, estava completamente perdido diante de toda aquela situação, os gatos continuaram vindo, outras mulheres apareceram também, se aproximavam do cadáver e se transformavam em gatos, gatos saiam em direção da gruta satisfeitos com o banquete e se transformavam em mulheres. Al chorava e gritava, agora completamente mudo.

            A última coisa que viu aquela noite, foi Ester sendo a última a sair de perto do corpo de Boris, ela foi em direção a Alberto, se agachou, passou a mão na sua cabeça, deu um beijo em sua testa e disse alguma coisa, que ele nunca iria entender, se virou e sumiu dentro da Gruta.

Um mês depois.

O jovem Alberto foi encontrado 1 dias depois do acontecimento, completamente desorientado e com uma das pernas quebradas, o corpo de Ester nunca foi achado, o corpo de Boris completamente arranhado e com partes do abdome destruídas o tornavam o principal suspeito do sumiço da jovem.

Alberto não se recuperou depois daquilo, não havia uma noite em que ele não gritava e gritava, ninguém conseguia dormir com ele na casa, a única solução foi encaminhar o pobre garoto para o Hospital Colônia Santana, sua mãe ficou arrasada com isso. Hélio providenciou uma casa mais próxima do hospital e foi para lá com a esposa, o tempo que o menino passou no hospital foi difícil, Rebeca não aguentou aqueles anos e acabou falecendo, Alberto recebeu alta do hospital, após muita medicação e tratamentos que não foram revelados aos pais, foi morar com o pai novamente em São Pedro, havia adquirido problemas na fala e na perna que havia quebrado. Nunca conseguiu conversar com Hélio sobre o ocorrido, só lembrava de cair do barranco, encontrar o Sr. Boris caído e de mais nada.
O misterioso sumiço da jovem Ester e a morte de Boris continuaram como uma incógnita para o povo de São Pedro durante anos, alguns diziam que o velho havia matado a menina, outros diziam que ela havia caído em alguma gruta e morrido, outros diziam que o velho Boris estava atrás de algum lobisomem e o achou, mas a verdade ninguém nunca conseguiu desvendar, a história permaneceu alguns anos sendo contada até ser enterrada para sempre nos contos dos antigos moradores e no esquecimento completo do pequeno Al.

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