Vou
contar uma história antiga para muitos, dessas que são contadas e recontadas
por todas as gerações, escondido no extremo sul do continente de Édoras,
protegido de um lado por um labirinto de cânions rochosos e do outro pelo
Grande Mar se encontra em um arquipélago de belas ilhas o reino élfico de
Minalum. Todas as pequenas ilhas do gigantesco arquipélago se conectam em uma
ilha central, lá fica o grande palácio élfico, onde os maiores magos do povo se
concentram e governam o reino em conjunto.
Minalum
é regida pelos Magos Conselheiros, somente os mais velhos, sábios e poderosos
elfos do reino podem adentrar nele, a proteção do arquipélago fica sob a
responsabilidade dos Magos de Batalha, formada por elfos que combinam suas
habilidades físicas de luta com suas habilidades magicas também voltadas ao
combate.
Como
em todos os reinos élficos de Édoras a fé na deusa Lathellanis é muito forte e
extremamente presente na vida do povo, especialmente no arquipélago de Minalum
existe uma ilha somente reservada aos devotos da deusa élfica, lá foi construído
um templo para a realização de cerimonias importantes, além de existir um
prédio onde as elfas e elfos que se dedicam a fé e aos ensinamentos da deusa
permanecem estudando sobre magicas de cura, encantamentos diversos e a história
do povo.
É
na ilha onde fica situado o templo da deusa Lathellanis que nossa história
começa, em uma das torres que preenchem a superfície da ilha se encontrava uma
jovem elfa, sua pele branca refletia a forte luz do sol e quem observasse a
torre de longe poderia chegar a pensar que fosse o reflexo de algum farol,
cabelos loiros quase prateados, pareciam banhados de alguma espécie de metal
raro, seus olhos azuis fitavam o Grande Mar, a jovem elfa se chamava Níliel,
sonhava desde criança com o mundo para além do arquipélago, se encantava com as
histórias dos patrulheiros da grande copa, a maior ordem de elfos patrulheiros
do reino Élfico de Lódrin, sonhava em conhecer as minas dos anões e cavalgar
nos fortes cavalos dos Cavaleiros da Planície, heróis humanos do Reino de
Gaderon. Os estudos no templo de Lathellanis eram puxados e intensos, Níliel se
dedicava ao estudo da história antiga dos elfos e um pouco também no estudo das
magicas de cura.
A
jovem elfa passava os dias estudando e ajudando nas diversas tarefas do templo,
volta e meia quando conseguia uma folga dessa rotina, escapava para alguma das
torres e ficava lá observando o mar e deixando o tempo passar, era para lá
também que todas as noites ia antes de dormir, levava consigo algum livro e
permanecia lendo iluminada pela luz da lua, até o sono chegar, então ela
fechava o livro, descia da torre e se dirigia para o dormitório. Em uma certa
noite o livro foi fechado mais cedo, uma tempestade tomou conta do mar e do céu
rapidamente, quando Níliel se deu conta a chuva já estava caindo de maneira
torrencial, a jovem elfa desceu correndo os degraus da torre vazia e foi para o
lado de fora, estava bem afastada do dormitório então precisava correr para
evitar problemas com seus monitores. Foi aí que no meio dos barulhos de trovões
um chamado de socorro chegou, alguém gritava no meio daquela tempestade, a elfa
parou no meio do caminho e prestou atenção, o chamado vinha do penhasco ali próximo,
alguém deveria ter caído nessa chuva e ficado preso nas encostas rochosas da
ilha, algo deveria ser feito o quando antes pois o mar estava agitado e a
colisão de uma onda na encosta da ilha poderia fazer até mesmo a mais poderosa
armadura ser amassada como um papel.
Níliel
puxou de sua bolsa um frasco de cristal com um liquido fluorescente dentro,
agitou levemente e o mesmo começou a brilhar como uma lanterna, se aproximou do
penhasco e com a iluminação da luz avistou um jovem preso as pedras da encosta,
ele sacudia os braços pedindo ajuda, rapidamente a ágil elfa saltou pelas
pedras e desceu até onde o rapaz se encontrava, com a ajuda dela o mesmo
conseguiu se soltar de alguns pedregulhos e depois de muito esforço os dois já
estavam seguros a cima do penhasco e próximos da torre vazia.
Era
um rapaz jovem, deveria possuir uns 20 anos de idade, cabelos castanhos e
longos até o ombro, estava com roupas simples e uma mochila de couro,
completamente molhado e sujo de lama, seus olhos estavam vidrados na elfa, a
chuva cai sobre ela e a luz do frasco de cristal magico só aumentava a aura
quase divina que a figura daquele ser aparentava durante a noite, Níliel se
aproximou dele e se ajoelhou para observar o rosto do jovem, ela nunca havia
visto um humano na vida, o rapaz tocou a ponta da orelha da elfa, a mesma se
assustou um pouco em um primeiro momento, mas em seguida sorriu, gostou do
toque e também do sorriso dele.
Após
o resgate os dois subiram para a torre vazia, o jovem se apresentou para a
elfa, se chamava Tristan, estava iniciando sua vida como marujo de uma
pequena tripulação comercial, segundo ele, seu navio havia sido arrastado pela
tempestade até os rochedos que protegem o arquipélago e no meio da confusão ele
caiu no mar e parou ali na ilha. Níliel se comoveu com a história, disse que
iria ajudar o jovem a voltar para o mar de alguma maneira, precisava de tempo
para pensar em algo e o orientou a permanecer naquela torre, se secar e se
recuperar do cansaço, ela iria visita-lo todas as noites para ver como ele
estava e também para deixa-lo a par de seu plano para conseguir talvez um barco
e enviar ele para o mar novamente, uma vez que a relação dos elfos de Minalum
com os humanos é extremamente fechada e qualquer um que for encontrado no arquipélago
deve ser encaminhado diretamente para a
Ilha central.
Assim
que a elfa o deixou, Tristan ficou completamente parado em uma das salas da
torre que haviam ocupado para ele se esconder, após um minuto de perplexidade
ele abriu sua mochila de couro, retirou um conjunto de roupas secas e também
uma caixinha de metal, olhou para os lados e abriu a caixa, nela estavam
diversos papeis enrolados, o jovem começou a abrir eles, o primeiro era um mapa
do arquipélago, com um X carimbado em uma parte da uma das ilhas, em outro
papel estava escrito: “Piratas de Filbo o
Corvo, plano de invasão e saque do templo élfico...” o restante da carte
continham diversos detalhes de como iria proceder o plano de aportar na ilha e
de como iria seguir o saque e fuga, a parte de Tristan seria localizar nas
costas rochosas o local ideal para a tripulação chegar na calada da noite sem
que fossem pegos pelos imensos corais e rochas que protegem todo o arquipélago.
O jovem olhou para aquele papel por diversas vezes, estava suando, depois de
refletir, decidiu guardar ele novamente em sua mochila e ir descansar, colocou
a roupa encharcada estendida e vestiu as secas, nas suas costas nuas iluminadas
pela luz do luar, um corvo negro se encontrava tatuado.
Os
dias foram se passando, durante todas as noites, Níliel ia até a torre e lia
para Tristan a respeito das histórias do mundo élfico, o rapaz encantado, retribuía
para ela, falando de como era o mundo dos humanos e a vida abordo de um navio “mercante”,
falou das diferenças raças e linguagens que ele já havia conhecido em tão pouco
tempo de tripulação, contou sobre os negócios com os anões, sobre as correntes marítimas,
sobres os diversos tipos de peixes, baleias e golfinhos que já encontraram e até
sobre como tomavam cuidado com os piratas. Ambos estavam se dando bem e depois
de umas três noites convivendo um com o outro, Tristan já começava a sentir
saudades de Níliel durante o dia e a elfa que passava seus momentos de estudo
pensando em uma rota de fuga para Tristan não segurava sua ansiedade para que a
noite chegasse e os dois se encontrassem novamente.
Na
quarta noite a elfa mostrou para Tristan um jeito dele sair do arquipélago sem
ser visto, a estratégia de Níliel seria esperar mais duas noites, uma nova
tempestade estaria se aproximando sendo assim, ela iria aproveitar a confusão e
a chuva para levar Tristan até uma pequena praia na ilha, lá se encontravam
diversas pequenas embarcações que os elfos do templo utilizam para navegar até
outras ilhas do arquipélago, desse modo, Tristan poderia se esconder na praia e
depois que a tempestade acalmar, usar um daqueles barcos para navegar com
tranquilidade por entre os corais e rochas e sair em segurança.
- É perigoso, mas acho
que suas habilidades de navegador vão dar conta – Brincou ela.
- Não sei nem como te
agradecer Níliel, um dia volto como capitão de uma tripulação inteira e te levo
para conhecer os sete mares comigo! – Disse Tristan.
No dia seguinte, Níliel não tirava as palavras e as
noites conversando com Tristan da cabeça, ela sabia, que teria somente mais
duas noites com seu mais novo amigo e alguma coisa estava apertando seu
coração, nada havia mexido tão forte assim com ela em sua vida inteira, a elfa
já não prestava mais atenção na aula e volta e meia acabava se atrapalhando com
alguma tarefa rotineira, percebeu depois de refletir um pouco que nunca se
interessou em saber tanto de uma pessoa como estava se interessando pelo humano
Tristan. Quando a noite começou a cair, Níliel preparou uma cesta de comida e
bebida para se despedir do jovem em sua última noite juntos.
Enquanto isso, antes da noite cair, Tristan passou o dia
na torre, pensando que a sua tripulação pirata, seguia nas redondezas da ilha
apenas aguardando o seu sinal na calada da noite para que adentrassem o arquipélago
em segurança e saqueassem o templo élfico, o jovem humano nunca teve
conhecimento a fundo do que aquele povo era realmente e as noites com Níliel
foram extremamente esclarecedoras, os elfos eram um povo orgulhoso de sua raça,
extremamente focados em seus laços um com os outros e em sua conexão com a
natureza e magia, era preciso muita cautela nesse momento, Tristan pensava em
Níliel e tinha medo que algo acontecesse com ela, caso descobrissem que os
piratas invadiram a ilha para roubar artefatos valiosos dos elfos, o jovem deveria
tomar uma decisão, deveria optar pelos interesses dos piratas das quais fazia
parte e saquear o templo para conseguir riquezas e todos os piratas
satisfazerem seus desejos individuais ou
optar por abortar a missão e seguir o que seu coração estava dizendo...
A penúltima noite dos dois juntos na torre vazia foi
divertida e para ambos, Tristan presenteou Níliel com uma coroa de flores que
ela havia feito com as diversas flores que cresciam pelas paredes da torre e a elfa
agradeceu corada o presenteando com a cesta de comida, ambos beberam e comeram,
riram juntos e conversaram sobre um futuro onde se reencontravam e saiam para
conhecer o resto do mundo a sua volta, conversaram muito, como em todas as
noites que havia passado a troca de conhecimentos entre os dois era constante,
Níliel aprendia sobre o mundo dos humanos e Tristan sobre o mundo dos elfos, foi entre um pausa silenciosa e um sorriso que os
dois se beijaram, trocaram carinhos e olhares, acabando por adormecerem ali
juntos entre pequenas flores que cresciam pelas paredes da torre, iluminados
pela lua cristalina da lua.
Na manhã seguinte Níliel acordou desesperada e apressada,
não poderia se atrasar para a sua aula e dessa maneira saiu correndo, juntou
rapidamente suas coisas e colocou na sua bolsa, nem teve tempo de perceber que
o frasco de cristal magico ficou no quarto de Tristan e que por engano estava
levando consigo a caixa de metal do jovem pirata.
Durante o dia a correria foi grande para a jovem elfa,
durante a aula o nervosismo e ansiedade foi grande, as imagens dos momentos da
noite anterior passavam por sua cabeça, era quase como sentir novamente o toque
de Tristan por sua pele. Durante a tarde a tempestade que estava prevista pelos
meteorologistas élficos começou a se aproximar e não demorou muito para que a
chuva caísse, Níliel foi para a biblioteca arrumar as coisas para a fuga de
Tristan naquela noite, havia preparado durante o almoço uma pequena caixa com
pão élfico e frutas para o jovem rapaz, enquanto conferia sua bolsa para chegar
se tudo estava ali encontrou a caixa de metal com a carta dos piratas e o mapa
da ilha onde estavam nela, o X demarcado sinalizava a praia onde os elfos
ancoravam as pequenas embarcações de transporte, lagrimas escorreram pelos
olhos de Níliel, um aperto no peito dilacerador tomou posse dela, tremendo
muito a jovem mesclava sensações de raiva, decepção e tristeza, não era possível
que todas aquelas noites juntos fossem apenas mentira.
A noite já estava chegando, a chuva esta engrossando e
Níliel aos prantos saiu correndo na direção da torre vazia, não sabia o que
pensar sobre tudo aquilo que tinha descoberto nas coisas de Tristan, era impossível
que a paixão repentina entre os dois fosse falsa, a jovem elfa jamais sentiu
falsidade nas palavras de Tristan, mas estava disposta a fazer qualquer coisa
com ele ao chegar na torre.
Subiu os degraus apressadamente, escancarou a porta do
quarto que usaram para esconder o jovem pirata e Níliel encontrou o cômodo
completamente vazio, a mochila de Tristan não estava mais ali, nenhuma roupa
havia sido deixada para trás, a elfa desabou de joelhos, ainda não era possível
acreditar que tudo aquilo era mentira, que todas as palavras e promessas de
Tristan era para enganar ela e facilitar o acesso dos piratas ao arquipélago, realmente
os humanos não eram confiáveis, Níliel se levantou e estava disposta a ir para
a praia e frustrar a invasão pirata sozinha, ao se virar a elfa repara em uma pequena
mesa que estava na sala ao lado da porta, em cima dela uma carta lacrada com um
selo de corvo negro dizia “Para Níliel,
minha amiga elfa...”
O Semblante de
raiva passou e as lagrimas voltaram, Níliel abriu a carta e leu, havia sido
escrita por Tristan, nela o jovem pirata contava a verdade, informou que era um
jovem pirata da tribulação e havia sido escolhido para executar essa missão,
porém o mesmo confessava que logo ao ver Níliel começou a questionar suas
motivações para fazer aquilo, começou a questionar o estilo de vida que estava
levando para entrar nos piratas e percebeu que aquilo não era o que ele
realmente queria...
“Você em
poucos dias mudou completamente a minha vida Níliel, acho que com a sua luz eu
consegui nessas noites que compartilhamos juntos, ser quem eu realmente sou,
consegui me despir das armaduras ruins que vesti durante minha vida e ser
realmente Tristan, você descobriu o que existe de melhor em mim, peço desculpas
por tudo, agora me deixe arrumar os erros que cometi, espero um dia, encontrar
você novamente, aqui ou nos sete mares...
Ass, Tristan.”.
“Arrumar os erros que cometi...” Níliel temia o pior e
foi correndo em direção da praia, debaixo de chuva e com os pés sujos de lama a
elfa do topo do morro que levava a praia a observou do alto, não conseguia com
seus olhos de elfo localizar Tristan na areia, os barcos élficos estavam todos
fortemente presos e as ondas os sacudiam sem piedade.
Descendo até a areia gritou por Tristan, procurou o jovem
dentro dos botes que estavam em terra e nos arredores da praia, não encontrou
nada, desesperada olhou para o mar, completamente escuro e agitado, o vento
fazia com que os pingos de chuva batessem com força no rosto da elfa, ela
entrou na água até a canela, juntou as mãos na frente do peito se concentrou e
começou a orar, os trovoes volta e meia clareavam sua visão, Níliel fechou os
olhos e começou a mentalizar Tristan, se Lathellanis a iluminasse ela iria ter
um sinal de onde estaria ele, um barulho imenso de trovão fez com que ela
abrisse os olhos, o mar foi iluminado por um segundo e meio completamente e no meio
dele, por entre as ondas e as pedras mais próximas um gigantesco barco pirata
passava, sacudindo e sendo jogado de cima para baixo suas velas negras estavam
quase sendo arrancadas pelo vento, Níliel estranhou o barco não estava
navegando na direção da praia, havia passado reto da estreita entrada e
seguindo para os rochedos, foi somente nesse momento que ela observou, no
extremo da praia, depois de seu fim, uma imensa luz havia se ascendido, era
Tristan, o jovem pirata foi para os rochedos no final da praia, se enfiou por
dentro deles e do alto de uma rocha próximo ao mar sinalizava para o navio
pirata com o frasco de cristal magico, a luz era forte como a de uma lanterna e
os piratas remavam com força até lá acreditando que era o ponto de embarque.
Níliel gritou, os trovões também e o barulho do grande
barco pirata Asa Negra comandado por Filbo o Corvo colidiu nos poderosos
rochedos que enchem e protegem o arquipélago elfo de Minalum, o navio foi
completamente despedaçado quando e as ondas permaneceram empurrando tudo que
restou do acidente contra o rochedo até o amanhece quando a tempestade
terminou. A elfa permaneceu de joelhos na praia também até o amanhecer.
Ass: Bobby, Pé de Pena - Beberrão, contator de histórias e ladrão das suas moedas se você der bobeira.